Nova espécie de planta é descoberta no Amazonas

Manaus/AM – Os municípios amazonenses de Presidente Figueiredo e São Sebastião do Uatumã, foram os espaços para uma descoberta fascinante de uma planta nativa desconhecida no bioma, mas já foi classificada em perigo de extinção.
Pertencente à família Clusiaceae, a nova espécie descrita como Tovomita cornuta foi encontrada em campinaranas dos dois municípios próximos à capital amazonense.
De pequeno porte, a planta já “nasce cientificamente” com uma classificação de alerta dos cientistas, informou o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Ela foi classificada como criticamente em perigo de extinção por sua área de distribuição ser restrita, possuir poucas populações conhecidas e o seu habitat sofrer impactos das atividades humanas.
A arvoreta de três a oito metros de altura se diferencia das espécies do mesmo grupo principalmente por apresentar pequenas protuberâncias nos frutos, semelhantes a cornos (“chifres”), característica que dá nome a essa espécie.
A espécie pode ser vista com flores de junho a outubro, e com frutos em março, abril e julho e ocorre exclusivamente no sub-bosque de florestas em ecossistemas de campinaranas da Amazônia. As campinaras são caracterizadas pelos solos arenosos e pobres em nutrientes, com distribuição fragmentada ao longo da bacia amazônica, ocupando aproximadamente 5% do bioma.
Descrita pelo doutorando em Botânica pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Layon Oreste Demarchi, e pelos pesquisadores Maria Teresa Fernandez Piedade (Inpa) e Lucas Cardoso Marinho da Universidade Federal do Maranhão (Ufma), o estudo foi publicado recentemente na revista “Acta Botanica Brasilica”.
O estudo está vinculado ao projeto de Pesquisa Ecológica de Longa Duração (Peld) financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), do qual o Grupo de Pesquisa em Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas” (Maua/Inpa) é um dos beneficiados na Amazônia.
De acordo com Demarchi, são conhecidas apenas quatro localidades de ocorrência da espécie. Duas delas estão em Unidades de Conservação (UC’s) de Uso Sustentável: Reserva de Desenvolvimento Sustentável – RDS do Tupé, onde foram encontrados 21 indivíduos, e RDS do Uatumã, onde foram registrados menos de 10 indivíduos. As outras duas localidades estão fora de UC’s. O gênero Tovomita compreende 53 espécies de plantas exclusivamente neotropicais, que ocorrem mais frequentemente em florestas úmidas.
Um dado importante é que das quatro áreas de ocorrência, duas são consideradas ameaçadas, a primeira por sofrer com a perda de habitat devido ao crescimento urbano da cidade de Manaus, como o bairro Ponta Negra, e a extração ilegal de areia para a construção civil.
“Já a segunda, sofreu pela perda de habitat resultante da criação do lago de Balbina, em Presidente Figueiredo.
Sendo assim, a área de distribuição pequena com poucas populações conhecidas e às ameaças que estas áreas sofrem, nos permitiram classificar a Tovomita cornuta como uma espécie criticamente ameaçada de extinção”, destacou o doutorando.
Para os autores, a descoberta da planta em áreas próximas a centros urbanos como Manaus, uma das áreas mais amostradas da Amazônia, é um indicativo de que ainda há muita biodiversidade a ser encontrada para a região. Segundo eles, “este é um exemplo da importância do trabalho de campo com coletas sistemáticas de longa duração, pois assim foi possível coletar a espécie em todas as suas fases de reprodução”. Eles destacam ainda a importância da interação dos estudos ecológicos e taxonômicos para revelar a expressiva biodiversidade amazônica.